quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Cola à Base da Proteína do Veneno de Jararaca Ajuda a Recuperar Lesões


Alexandre Leite Rodrigues de Oliveira, coordenador dos estudos
(Foto: Edu Fortes/AAN)
A jararaca é a responsável pela maior parte dos acidentes com cobras no Brasil e por isso virou sinônimo do mal. Mas o réptil também pode ser usado para melhorar a saúde do homem. Cientistas da Unicamp estão utilizando uma proteína encontrada no seu veneno para colar nervos em reimplantes de raízes nervosas com a medula espinhal. Os pesquisadores usam células-tronco da medula óssea e um gel desenvolvido a partir do veneno da jararaca para restabelecer a conexão entre o sistema nervoso periférico e o central e assim restabelecer o movimento em membros afetados.

O projeto é coordenado pelo professor do Departamento de Anatomia, Biologia Celular e Fisiologia e Biofísica Alexandre Leite Rodrigues de Oliveira. Ele explica que a pesquisa é específica para um tipo de lesão que ocorre na interface do sistema nervoso, comum em quedas e acidentes de moto, quando o ombro é deslocado e os nervos se desprendem do pescoço. “A maioria dessas lesões não pode ser revertida e o paciente fica com sequelas”, explica o biólogo. Isso ocorre porque muitos neurônios motores, responsáveis pelo movimento, não sobrevivem ao impacto da lesão, o que inviabiliza o reimplante.

Além disso, a cirurgia no local é tão arriscada que qualquer deslize pode provocar danos maiores ao paciente. “Sei de um cirurgião chamado Thomas Carlstedt que faz esse tipo de cirurgia na Inglaterra”, conta.

O objetivo da pesquisa da Unicamp é criar mecanismos que viabilizem a sobrevivência dos neurônios motores. “Por isso é muito importante entender a biologia da lesão. A sobrevivência neuronal melhora as chances de recuperação do paciente e do reimplante ser bem sucedido”, explica o cientista. Os neurônios motores são indispensáveis para o movimentos dos membros. Nessa lesão específica, eles se ligam às raízes dos nervos, que se unem à medula espinhal.

Num primeiro momento, eles apenas usaram as células-tronco para impedir a morte neuronal. “Essas células não agem para se transformar em neurônios motores. Elas fornecem substâncias importantes para que o neurônio fique mais resistente e sobreviva”, explica o biólogo. Oliveira conta que com o tempo, essas células tronco são absorvidas pelo organismo.

Resultados preliminares da sua pesquisa já foram publicados na revista Neurobiology of Disease. Usando células-tronco da medula de ratos, os cientistas conseguiram dobrar a sobrevida dos neurônios afetados pela lesão. Os testes foram feitos em ratos no Laboratório de Regeneração Nervosa no Instituto de Biologia.

Na segunda etapa da pesquisa, que ainda está em andamento, os cientistas fizeram o reimplante com a cola. “Nós colocamos células tronco no gel e usamos para colar as raízes nervosas à medula”, explica o pesquisador. Nos testes feitos na Unicamp, os ratos que receberam o reimplante voltaram a andar depois de três meses. “É necessário um período longo para que ocorra a recuperação”, explica Oliveira.

Os ratos, conta o pesquisador, são um modelo consagrado para estes tipos de teste. “É mais fácil realizar as experiências com ratos do que com animais maiores. Eles são um modelo consagrado para estudar o sistema nervoso”, diz.

O próximo passo é aperfeiçoar a técnica. O pesquisador diz, no entanto, que vai demorar alguns anos para que a técnica seja incorporada à medicina. “É preciso encontrar cirurgiões que façam esse tipo de intervenção”, conta.

Proteína A cola usada pelos cientistas da Unicamp é feita a partir da fibrina, que é uma proteína produzida a partir de uma fração do veneno de jararaca. O selante é feito pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu. Segundo o pesquisador, o uso selante não traz efeitos colaterais. “O ser humano já tem essa proteína no organismo”, conta.
Patrícia Azevedo
Agência Anhangüera de Notícias



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